domingo, 20 de março de 2011

Mulheres Afegãs

Estou lendo o Livro: A cidade do Sol, muito bom. E fiquei interessada em saber mais sobre o Pais Afeganistão e suas mulheres. Ainda estou espantada com as imagens que vi e com o que li ao fazer a pesquisa na Net.
             A matéria postada abaixo vale a pena ler, pois não temos idéia do que é realmente uma vida triste, pobre, sofrida, sem escolhas, cobertas pela ignorância dos homens e sua religião, a vida de uma mulher que nasce no Afeganistão.
            E pensar que todos os dias se vêem mulheres tristes ou deprimidas nessa outra realidade que é o resto do mundo. “Cada um carrega a sua cruz e cada cruz tem o seu peso” deve-se reconhecer isso, assim como também reconheçamos que existem muitas mulheres que não moram no Afeganistão e sofrem igualmente. Lutar por nossos direitos não é uma tarefa fácil. Vivemos no século XXI, mas ainda encontramos muitos lugares e pessoas que seguem suas vidas em séculos anteriores. 8 de março de todo ano celebramos o Dia Internacional da mulher e devemos sim comemorar este dia. 
            O que quero dizer na verdade é que muitas vezes reclamamos de coisas tão banais da vida ou nos preocupamos com coisas tão fúteis e não paramos para pensar que, a cada segundo, tem uma mulher sofrendo sem direito ou defesa alguma.


Afeganistão - Um inferno para as mulheres

            Nascer no Afeganistão não é um bom começo de vida para ninguém. No país que é um dos cinco mais pobres do mundo e o segundo mais corrupto, 70% da população sofre de desnutrição e a expectativa de vida é de 43 anos.
            Sete em cada dez mulheres ainda usam burca e mais da metade se casa com homens escolhidos pela família antes dos 16 anos de idade.
O país foi apontado, no último relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), como o lugar mais perigoso do mundo para gerar uma criança. Mas pior do que vir à luz é nascer mulher no Afeganistão.
            Nas ruas, a maioria ainda usa a burca. Embora as escolas para mulheres não sejam mais proibidas, as estudantes representam uma porcentagem ínfima da população feminina. Sob o totalitarismo medieval do Talibã, as mulheres que saíam às ruas desacompanhadas do marido ou de um parente do sexo masculino eram castigadas a chibatadas. Hoje, a proibição não existe mais, mas as afegãs continuam ausentes da paisagem. Para elas, qualquer lugar onde haja aglomeração masculina é considerado impróprio, o que inclui mercados, feiras, cinemas e parques. Poucas se arriscam a desafiar as proibições sociais. A aplicação de castigos físicos a mulheres de "mau comportamento" continua a ser vista como um dever e um direito da família.
            Uma pesquisa feita em 2008 com 4 700 afegãs mostrou que 87% já tinham sido vítimas de espancamentos ou abusos sexuais e psicológicos – em 82% dos casos, infligidos por parentes. O Afeganistão livrou-se do jugo do Talibã, mas não conseguiu varrer o obscurantismo religioso que ele ajudou a disseminar. A interpretação radical e misógina dos princípios do Islã é a principal causa da tragédia das mulheres afegãs.
A prática da autoimolação é um dos sinais mais cruéis de sua magnitude. Entre 2008 e 2009, ao menos oitenta afegãs tentaram o suicídio ateando fogo ao corpo.
Rahime, de 25 anos, foi uma das mulheres Afegãs que ateou fogo ao corpo jogando querosene sobre a cabeça. Dada em casamento aos 10 anos de idade. Para atear fogo em si próprias, as mulheres costumam recorrer a óleo de cozinha ou ao querosene usado para acender lampiões. Apenas 6% das casas na zona rural do país têm eletricidade. A maior parte das mulheres que tentam imolar-se não morre na hora, mas depois de alguns dias, vítima de falência de múltiplos órgãos resultante da perda de água. "Algumas mulheres demoram para contar a história inteira, que muitas vezes inclui estupros e espancamentos sistemáticos. Outras nem são capazes de explicar por que fizeram aquilo. Apenas dizem que não querem mais viver."
            O Talibã, durante os cinco anos em que esteve no poder, proibiu-as de trabalhar e de estudar. Instituiu a pena de apedrejamento para adúlteras e baniu qualquer tipo de entretenimento, incluindo cinema, televisão e até a brincadeira de empinar pipas, tradicional no país. A música também foi vetada, e quem fosse achado com uma fita cassete no carro era preso.
            No mercado, a freqüência é predominantemente masculina. É costume no país os homens fazerem as compras domésticas, orientados pelas mulheres, cujo lugar, supõem, é dentro de casa. Os shoppings estão entre os poucos lugares que as afegãs podem freqüentar. Nos demais, onde há aglomeração masculina, existem restrições.
A Capital é rodeada por montanhas, Cabul tem vias sem faixas, poucas calçadas e menos mulheres ainda nas ruas.
O MUNDO ATRÁS DA TELA
            O visor da burca impede a visão lateral e torna difícil enxergar os pés
A primeira constatação é que ela permite enxergar melhor do que se imagina. À luz do dia, os olhos aprendem rapidamente a ignorar a interferência da trama quadriculada que serve de visor da roupa. Ao menos quando se olha para a frente, dá para ver tudo com clareza. Já a visão lateral desaparece de dentro de uma burca. Olhar para os lados requer virar completamente a cabeça, e o primeiro tropeção ensina que enxergar os pés – assim como os muitos buracos que surgem diante deles nas ruas sem calçada e sem asfalto de Cabul – é outra tarefa complicada para uma mulher nessa situação. É por isso que quase todas caminham com uma das mãos sobre o peito, pressionando o tecido contra o corpo. Só assim conseguem ver um pouco melhor onde pisam. A sensação ao usar a roupa é a de estar dentro de uma barraca de camping, de onde se pode espreitar o mundo sem ser visto, já que ninguém presta atenção numa mulher de burca – você é só mais um ponto azul movimentando-se na paisagem.
            As burcas protegem contra as moscas que sobrevoam os muitos esgotos a céu aberto
de Cabul. Embora só as mãos fiquem visíveis, quem quiser perscrutar quem está sob uma burca pode começar prestando atenção na cor do tecido. Quanto mais claro o tom de azul (sempre azul, já que a ideia é não ser original), mais jovem é a mulher que está debaixo dela.
            Conforme o dia escurece, a visão vai piorando. A quantidade de tropeções aumenta e a sensação de claustrofobia começa a dar comichão nas mãos. Puxo finalmente o véu e descubro o rosto. Burcas podem proteger contra a poeira, a gripe A e o "bad hair day", mas tirá-las – e sentir a lufada de ar fresco que adentra os pulmões – é a melhor parte da experiência de vesti-las.

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