quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Viagem

Já fazia mais de 3 anos que não íamos a praia, não me sentia segura em levar um bebê a Praia, ainda mais o meu que é loirinho dos pés a cabeça. Morro de medo (sim, tenho pavor) de ficar com marcas vermelhas horrorosas pelo corpo, sentir o ardor quando se deita na cama e quando a pele esta escamando, meu Senhor!
            O lugar escolhido por meu excelentíssimo esposo foi o litoral norte de São Paulo, indicação do meu cunhado que passara por lá uma vez e adorou. Juquehy Praia Hotel, que foi eleito 1º lugar da Região, no guia Quatro Rodas. “Grandes coisas” Olhei na Net e achei lindo o lugar, foi ai que me deparei que andava um pouco “desfalcada” de biquínis, praticamente nada. Tiramos uma tarde deliciosa de passeio, eu e meu esposo, para comprar o que estava faltando. E, por mais incrível que pareça, ele calmamente me acompanhou. Digo isso porque ele tem fobia de sair de casa para fazer compras.
            Renovado a gaveta de biquínis, faço as malas, e muitas! Não conheço o lugar, o clima e também, claro, o estilo que as pessoas estarão usando. Duas malas enormes e mais um “bocado” de malas pequenas para ficar cinco dias na Praia, sem contar a sacola enorme de bloqueadores solar, comprei vários e levei todos, inclusive os que já tinha em casa.
            Considerei uma viajem longa, mais de nove horas na estrada, fazia tempo que não fazíamos uma viajem assim de carro. E gastamos quase cem reais só de pedágio, maldita taxa que se paga para transitar, porem, felizmente um mal necessário. Saímos cedinho, umas seis da manhã e chegamos bem no horário, exatamente as três da tarde.
            Inevitável não notar a beleza que este Brasil tem, muito verde, verde por todos os lados, fazendas e mais fazendas, plantações a “perder de vista”. E cruzando pelo caminho, caminhões que transportavam desde mamão, mandioca, têxtil, produtos tóxicos à gigantescas peças que terá um destino longo e fará certamente parte de alguma construção monstruosa.
            Quando estávamos passando por São Paulo, de “cara”, avistamos barracos de todos os tipos nos morros e a cada pequeno metro quadrado sobre o teto, parabólicas e caixas d’água. E meu esposo comentou: _Tem muitas pessoas que dizem morar em São Paulo, se “vangloriando” por estar morando aqui, mas em quais condições será? Concluí o pensamento dele, reforçando-o e inclui que apesar de muitas dessas pessoas estarem morando em algo que diria não chegar a ter um metro quadrado não é tão lastimável assim, o difícil deve ser morar em um lugar que não tem o mínimo de saneamento básico, pois em lugares como este simplesmente não existe ou não funciona direito. Em contra partida a cada quilômetro que percorríamos, placas e mais placas avisando àqueles que por ali transitavam que o governo de São Paulo investiu mais de 6 bilhões, isso mesmo, 6 bilhões de reais destinados para a construção do trecho Sul, 61,4 km de extensão, que incluiu a construção da rodovia, desapropriações, reassentamentos e compensações ambientais. E, lembrando, que logo depois de passarmos por ele, teve pedágio também.
            Chegamos em São Sebastião, Praia de Juquey (que quer dizer areias cantantes), conhecida como a jóia do Litoral Norte de São Paulo, caracteriza-se pelo ambiente familiar e descontraído. A praia, extensa, tem areia branca e águas muito claras. As montanhas compõem um cenário de muito verde e se prolongam até o mar, emoldurando a praia. Juquehy também desenvolveu vida própria, pela sua distância do Centro de São Sebastião. No bairro ainda vivem muitos caiçaras e pescadores, mas que acabaram ficando afastados da praia (e muitos, pobres!) com a especulação imobiliária.
            A Praia é calma, tranquila, assim como estava o Hotel. O serviço do Hotel, achei excelente e havia, na sua maioria, estrangeiros, várias famílias americanas, também tinham alemães e outros tantos falando em espanhol.
            Conheci uma família americana muito simpática, quer dizer, só a mulher falava com a gente, o esposo totalmente “jacu”, ou como poderia dizer, “na dele”. As crianças eram lindas e tinham praticamente a mesma idade de meu filho, foi por isso que se deu o nosso contato. Alias, quase todas as famílias que estavam hospedadas, tinham crianças e todas elas não chegavam a ter mais de 10 anos. Era fácil de saber quem era quem, os americanos vestiam seus filhos com roupas de mergulho dos pés a cabeça para não se queimarem, já os alemães, além de se comunicarem aos gritos, estavam vermelhos igual pimentão e não saiam por nada da praia. Os espanhóis faziam o tipo “não quero sair do lugar”, pois nunca os via fora, nem na praia, nem na piscina, sempre vestidos circulando pelos corredores dos quartos ou no restaurante.
            Os Brasileiros, com exceção de nós e de alguns poucos, traziam suas babás para cuidarem de suas crianças, seus lindos e malcriados filhos, e não pude deixar de notar que todas as babás eram, coincidentemente, negras, isso mesmo, cheguei a perguntar no hotel se era um serviço que o hotel tinha pois achei incrível famílias virem de lugares diferentes e trazerem suas babás de uniforme branco, e, notavelmente negras. Cada criança tinha seu computador de mão, com jogos do tipo “mortal combat” e o pais separados de seus filhos, a mãe praticamente não víamos, estes, com seus iPad’s de ponta, e seja no restaurante ou na beira da praia, não davam sequer uma palavra entre eles. Que sirva de lição para mim, podemos ter acesso a toda esta tecnologia, mas não podemos esquecer de ver, conversar e estar com nossos filhos em “carne e osso”, principalmente em momentos como este.
            Colocamos nossa armadura dos pés a cabeça (protetor solar) e íamos para a praia aproveitar o sol que se mostrou irradiante o dia todo. Acompanhei meu filhote até a Praia e fiz questão de lhe apresentar o mar. _Quanta “ága” mamãe! Olha! Olha! Ele disse. Maravilhado com o que estava vendo e eu mais ainda por estar presenciando meu filho feliz em ver o mar pela primeira vez. Mas, ficou, logo depois um tanto quanto assustado com toda essa imensidão que é o mar, que mais tarde não chegava nem perto.
            Muitas brincadeiras, de pega-pega, de futebol, na piscina ou de enterrar seus preciosos cavalos na areia, (levou simplesmente 15 cavalos para garantir sua diversão) logo, com tantas atividades, dormia por lá mesmo, debruçado em uma cadeira. Adormecia estando a “milanesa” como dizia meu esposo, pois a areia colava em sua pele por causa de todo aquele protetor.
            Outra coisa que me fez pensar muito foi observar as pessoas mais velhas, e pensei: _É, daqui para frente nosso destino é só envelhecer. Dura realidade, que todos nós já sabemos que vamos passar. E, ao contrário do que venho pensado incansavelmente em casa, aqui na praia, senti que meu corpo não esta tão fora de forma. Estou apenas um pouco acima de meu peso ideal, assim como meu esposo também está. Velhos prazeres de hábitos alimentares inadequados. Muitas mulheres jovens fora de forma com seus filhos e dando a impressão (algumas) que esqueceram de cuidar do corpo depois que se tornaram mães. Pensei em parar com minhas caminhadas matinais, mas acho que não é o momento, preciso continuar e digo mais, preciso aumentar meu ritmo.
            A reflexão aqui sobre o fato de envelhecer é justamente, como vamos envelhecer, envelheceremos de maneira saudável ou deixamos o desleixo nos consumir? Os obesos aqui, não saiam do lugar, sempre e o tempo todo: pai, mãe e filhos, comendo freneticamente alguma coisa. Os magros fazendo corridas intermináveis... e, por ai vai. Era claro como o sol saber de quem tinha hábitos bons e quem tinha hábitos “não muito bons”, nós estávamos no meio termo. Vi uma senhora sozinha na piscina de maiô, com uma fisionomia entristecida e cansada, devia ter entre 55 e 65 anos, com uma imensa dificuldade em se locomover, aonde parava, lá ficava. Notei que ela observava também, não nós, mas senhoras que provavelmente tinha a mesma idade da sua. Senhoras estas bem vestidas, que andavam livremente para todos os lados, corriam atrás de seus netos inquietos e com uma saúde invejável até a mim que pensava: _Se eu não levar a sério meus hábitos alimentares com qual me parecerei? A senhora que estava imóvel, por varias horas, devia ter mais ou menos seus 1,60 m e seu corpo simplesmente era enorme da cintura para cima e desproporcional da cintura para baixo, pernas finíssimas e enrugadas.

Não sei porque estou relatando tudo isso aqui, mas acredito que aquela senhora não cuidou da saúde quando jovem, ou desde jovem. Carrego meus pensamentos com tudo isso e venho a me preocupar que devo, ou melhor, devemos (isso inclui meu marido) “acordar para vida”. Acordar para vida e vivê-la. Meu esposo, em uma noite ao jantar, disse: _Se eu viver até os 70 anos com saúde e poder ter a oportunidade de viajar pelo menos uma vez por ano, ainda vou conhecer provavelmente uns quarenta lugares. Então eu disse: _Somos o que comemos. Tenho imensa vontade de conhecer também muitos lugares, Estados Unidos e Europa provavelmente estará em um desses passeios que faremos juntos. Mas, o melhor a fazer agora, que temos nosso “bambino” ainda pequeno, é ficar por aqui mesmo e esperar ele crescer um pouco mais.
            Não levei, além das muitas roupas, absolutamente nada para ler, fiquei tão inquieta em não ter nada para fazer que no segundo dia fomos a Livraria, encontramos uma bem “bacaninha” vizinha de vários restaurantes convidativos que encontramos pelo caminho, próximo ao Hotel. De cara perguntei se tinha Sudoku, que amo preencher, depois, ainda não sei porquê, (talvez por causa da propaganda do filme) senti uma vontade enorme de ler o Livro Comer Rezar e Amar, senti que este combinaria perfeitamente por eu estar fora de casa. E quando estava pagando por estas minhas duas aquisições, que já iriam me deixar bastante ocupada, li a capa de um outro que fiquei bastante curiosa, 3096 dias NATASCHA KAMPUSCH _A impressionante história da garota que ficou em cativeiro durante oito anos, em um dos seqüestros mais longos de que se tem notícia. Comprei também e assim que terminar o primeiro, ele será meu segundo.
Feliz em saber que não ficaria mais ociosa iniciei minha leitura e entre dar atenção ao meu “filhote”, que, do nada, ficou praticamente um dia inteiro com febre e sem sairmos do quarto o dia todo, o livro realmente veio a calhar. Mas, como eu tinha levado o meu Kit Farmacinha, logo, ele melhorou e voltamos a aproveitar o restantes dos dias.
 Os pratos servidos no Restaurante do Hotel eram maravilhosos. De frente para o mar e a noite, servido a luz de velas e contrariando este ambiente bastante convidativo, para se pedir algo que tivesse frutos do mar, eu pedi carne, Filé Mignon ao molho de amora foi eleito o meu preferido. Pratos respeitosamente lindos e incrivelmente deliciosos. A única coisa que não apreciei muito foram os Coquetéis, definitivamente já experimentei melhores.
            Alguns hóspedes que conheci me relataram que não era a primeira vez que vinham a Juquehy, por adorarem o lugar, e, o Hotel, pelo bom atendimento que oferecem. Eu concordo, não tenho certeza se retornarei, assim que tiver uma nova oportunidade pretendo conhecer outro lugar, mas certamente, assim como fez meu cunhado indicando para nós, eu indicarei para outros.
            Meu marido diz que estou ficando louca em escrever tudo isso e publicar _Quem vai ler? Não importa se terá alguém que vá ler isso tudo. Para mim, está fazendo uma enorme importância, pois sei que preciso melhorar muito minha escrita. Um dia chego lá. Mas já percebo que estou adorando fazer isso e que está me fazendo muito bem. E como meu sogro sempre diz, “o saber não ocupa espaço na cabeça”. E ponto final. Ah, voltei para casa com uma mala inteira sem usar, sequer uma pecinha de roupa.
           

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