domingo, 19 de dezembro de 2010

TENTE ME DECIFRAR


Tente me decifrar


Dizem-me que eu sou
A ironia personificada
A ousadia encarnada
Que eu sou uma faca de dois gumes
Em que lado você quer se cortar?

Não me defino, não me limito
Não paro quando ouço o seu grito
Não me assusta o buraco do tiro
A volúpia do opressor
Ou a angústia do oprimido

Não ando em desatino
Mas, procuro por aventura e perigo
E não sei do seu ou do meu destino
Porém, tenho idéia de quem nós desafiará

Eu não planto intrigas
Não colho brigas
Não cutuco feridas
Nem assopro depois da mordida

Reconheço a profundidade de um olhar feminino
E a sensibilidade do seu mais oculto instinto

Não finjo ser amigo
Nem falo pra impressionar
Não corro pro morro
Nem morro no coro da falácia popular

Nada te peço, tão pouco te humilho,
Nem vivo o que queres me dar
Não sou leite vazio
Nem sou puro café
Sou leito sem rio
Por si só transcorro
Onde traço o meu caminho
E cedo aprendi
Que água de beber
Não é água pra nadar

Não tenho medo de louco
Odeio pedir socorro
Dou-lhe tapas e torço o pescoço
Do demônio que ousar me atrapalhar

Mas sou moço bom
Se necessário for
Vendo o meu café
E pago teu almoço
Depois tomo água
E como teus biscoitos
Na hora de prosear

Não vivo à sombra alheia
Tenho o Sol no pensamento
Sou o trovão, sou o vento
Que há tempo tenho aprisionado o tempo
Que quer me aprisionar

Mas, você, se quiser
Tente enlouquecer
Ao me decifrar.


Celizio de Souza Conceição Filho

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