segunda-feira, 18 de outubro de 2010

FILHOS DO CRACK


Pequenos, de saúde frágil, desconfiados e carentes. Assim são os filhos do crack, nascidos de uma geração assolada por uma droga que corrói o usuário.
São crianças geradas por mães que não abandonam o vício. Fumam até minutos antes do parto.
Até quem lida com o problema no dia-a-dia sabe que o número é impressionante. São crianças que dificilmente ficam com a mãe ou com familiares. Na maior parte dos casos, são levados pelo Conselho Tutelar ou pela Justiça para abrigos. Isso quando não são abandonadas ao nascer. A partir daí, viram órfãos do crack.
Pobres Crianças, tristes destinos.
Em um abrigo, em minha cidade, vivem acolhidas entre crianças e adolescente, Treze (13). Onze (11) deles são filhos de mulheres viciadas. Uns foram retirados das mães que não tinham estrutura para criar as crianças. Outros, abandonados ainda bebês. É o caso de duas irmãs. A mãe viciada em Crak ficava com as meninas na rua o dia todo pedindo esmola e se prostituindo. São as mais novas entre as crianças que ocupam os berços daquele quarto no lar, que tem camas arrumadas com colchas coloridas e bichos de pelúcia. Antes, os avós eram mais velhos e assumiam os bebês. Hoje, são cada vez mais jovens e também estão viciados.
Enfrentamos um grande problema social, falta educação, estrutura familiar, e passa de uma geração para outra em um piscar de olhos.
Conheci uma menina no abrigo logo que comecei a freqüentá-lo, hoje aos 14 anos, fugiu do Abrigo e vive com a mãe viciada e faz uso da droga. Não sei se vai a escola, mas sei que troca o dia pela noite se prostituindo. Logo será também uma mãe.
Outra mãe viciada tem dois de seus quatro filhos no Abrigo, não vai as visitas por ser no sábado de manha, sua justificativa? “Sexta é dia de gandaia e por isso não consigo ir”.
Pobres Crianças, tristes destinos.
A sociedade faz igual à educação deste país “fingem que está tudo certo, tudo bem”.
Para mudar esse gráfico, o governo necessita fazer um alto investimento.
E quem se importa? Poucos. E esses “poucos” não estão nas políticas públicas.
A Entidade que acolhe criança e adolescente aqui em minha cidade é a que menos recebe doações da comunidade, quando se trata de doações relacionadas a todas as outras que temos aqui. São “migalhas” perto da real necessidade, a Casa esta sempre com os quartos lotados de bebes e crianças perdidas, sem saber o que vai acontecer com suas vidas, ou sem saber os motivos pelos quais estão acolhidas.
Percebo que existe um preconceito da sociedade ignorante que acham que “filho de peixe, peixinho é”, marginalizados e impedidos de crescer sem que sejam notados como crianças depositadas em abrigos com os futuros predestinados a ocuparem a mesmas ruas e bancos de praças.
Pobres Crianças, tristes destinos.
Aquele que olha nos olhos dessas crianças não é isto que vê. Vê esperança, vontade de viver diferente, capacidades extraordinárias de aprendizagem e muita vontade de ser feliz.

Casa de Acolhimento de Rancharia-SP
Paty Magu

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