quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ARTE POÉTICA

Não quero morrer não quero
apodrecer no poema
que o cadáver de minhas tardes
não venha feder em tua manhã feliz

                        e o lume
que tua boca acenda acaso das palavras
- ainda que nascido da morte -

                       some-se aos outros fogos do dia
                       aos barulhos da casa e da avenida
                       no presente veloz 
Nada que se pareça
a pássaro empalhado, múmia
de flor
dentro do livro

                        e o que da noite volte
volte em chamas

         ou em chaga 
         vertiginosamente como o jasmim
que num lampejo só

ilumina a cidade inteira
 Poeta: Ferreira Gullar

Recebeu o Prêmio Camões 2010
(Instituído em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões é concedido anualmente a autores que tenham contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa). Um homem que gostaria de ter a oportunidade de conhecê-lo. Grande história, muita coisa vivida. Personalidade marcante.

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